Semana passada, li uma reportagem sobre Sheryl Sandberg, COO do Facebook, e ela disse o seguinte:
“Acho que começamos a dizer às menininhas, desde uma idade muito precoce, que elas não devem liderar, enquanto na mesma idade começamos a dizer aos garotinhos que eles precisam liderar. É um erro “.
Quando eu ouvi a frase de Sandberg, fiquei refletindo se eu cometeria esse erro se eu tivesse uma filha… Acho que alguns pensamentos estão tão arraigados em nosso inconsciente, que quando você está do lado mais favorecido, não se preocupa em tentar enxergar o outro lado.
Eu me lembro que a minha turma da graduação (Administração de Empresas) a proporção de homens e mulheres era de um para um. No MBA, a presença feminina também era na faixa de 50%. No entanto, em toda a minha experiência profissional, a presença masculina nos cargos de liderança sempre foi maioria. Então, onde estão as minhas colegas de sala?
Se você respondeu “elas resolveram virar mãe e cuidar da família”, indica que há uma raiz machista na forma de pensar.
Dentre as seis mulheres da imagem acima, quatro delas são mães. E não importa a razão
pela qual as outras duas não tiveram filhos – se por questões biológicas ou por escolha pessoal – é fácil imaginar que sofram julgamentos preconceituosos por irem contra o que a sociedade estabeleceu como padrão socialmente esperado ao longo dos séculos.
Eu já trabalhei em projetos de planejamento estratégico, redução de despesas e aumento de produtividade em empresas de diversos segmentos e tamanhos. E foram raras as vezes que me deparei com mulheres a frente dos altos cargos de liderança.
Segundo o IBGE, a taxa de mulheres em cargos de liderança no Brasil é de 37,6%, mas isso somando as esferas privadas (gerentes a diretoras) e pública (diretora de órgãos e ministras).
A média de mulheres CEO no mundo ainda é inferior a 5%. E somando todas as mulheres C-level, esta taxa não passa de 16%.
Estudos da consultoria americana Boston Consulting Group apontam as micro agressões que as mulheres que almejam cargos de liderança sofrem no dia a dia, a limitação de oportunidades ao longo da carreira e até mesmo a falta de exemplos de lideranças feminina dentro da companhia como os principais motivos da disparidade.
Outras pesquisas, ao invés de analisar as causas, preferiram analisar resultados e consequências da presença feminina:
- De acordo a consultoria McKinsey, empresas com mulheres em seus conselhos, apresentaram retorno financeiro 15% superior à média nacional de sua indústria.
- Segundo o Instituto Peterson de Economia Internacional, o patrimônio líquido das empresas com mulheres em cargos de liderança foi 44% superior, em comparação com empresas que não possuem esta prática.
- O Banco Mundial calcula que a produtividade por trabalhador poderia aumentar até 40% se todas as formas de discriminação contra funcionárias e gerentes mulheres fossem eliminadas.
- Além disso, se houvesse igualdade salarial entre homens e mulheres, o PIB Global seria 26% superior.
- Empresas com forças de trabalho diversas são 22% mais produtivas e a satisfação do cliente é 39% superior.
Recentemente (dia 12 de novembro de 2018), a Rede Brasil do Pacto Global lançou a versão em português de uma plataforma da ONU que avalia a igualdade de gênero nas empresas, durante o Seminário ‘Gênero e Inclusão nas empresas’, na sede do Insper– São Paulo.
A plataforma é formada por 18 perguntas múltipla escolha que o gestor deve responder, e através destas consegue refletir e avaliar suas politicas internas relacionadas à igualdade de gênero e empoderamento feminino. A ferramenta já é utilizada em 90 países e para o evento de lançamento no Brasil, contou com o apoio do governo da Dinamarca, Finlândia, Suécia e
Noruega.
Dentre vários dados interessantes no site da plataforma, há a seguinte afirmação:
“Todos os atores precisarão de esforços conjuntos para acelerar o ritmo da mudança, mas os negócios — o motor que responde por 90% dos empregos nos países em desenvolvimento e é fonte de inovadores tecnológicos, geradores de capital e investidores — têm uma tremenda oportunidade de causar impactos positivos. Cada vez mais as pesquisas apontam para os impactos positivos nos resultados financeiros de se investir em mulheres para que alcancem todo o seu potencial”
A BPI Consultoria quer promover a saúde financeira de seus associados e clientes. Mas acima de tudo, desejamos colaborar para um mundo mais justo e igualitário.
Não praticamos discriminação nos processos seletivos, não há diferença salarial entre homens e mulheres na mesma função e as oportunidades para crescimento profissional são as mesmas para todos. Ainda assim, estamos longe de ter a taxa igualdade de gênero. Atualmente, a taxa de mulheres na BPI é de 1 para 7 homens, ou seja 14%.
Minha geração não vai chegar a ver a igualdade de gênero. Segundo estudos, a igualdade econômica entre homens e mulheres vai demorar mais de 100 anos se seguir com a taxa atual de mudanças.
No entanto, como disse Clarice Lispector “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade”.
Por Matheus Martinelli, Consultor de Gestão.
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