No mundo corporativo é comum ouvirmos falar a respeito da correlação entre produtividade de uma empresa e o ambiente de trabalho que a mesma oferece aos seus funcionários. A convicção que, de fato, existe uma interdependência entre o aspecto utilitário de uma organização e o nível de satisfação dos seus colaboradores faz com que esta relação se torne um tema recorrente. Contudo, o aspecto irrefutável de que certas ideias ganham no plano da teoria, não fazem com que elas sejam automaticamente implementadas na prática. Ou melhor: entre a elaboração de convincentes princípios de gestão e a sua real aplicação na dinâmica de uma empresa existe uma distância que por diversas vezes é desprezada por seus gestores.
Quando nos referimos à produtividade, geralmente temos em mente uma função cujos elementos constitutivos são, por um lado, a quantidade produzida e, por outro, os fatores despendidos no processo produtivo. Consequentemente, o objeto a ser julgado é tido como produtivo se alcançar os objetivos a ele estipulados, valendo-se, para tanto, do menor número de insumos possíveis (tempo, material, energia, etc).
Por outro lado, um ambiente de trabalho saudável pode ser definido a partir de um conjunto de fatores que compreende desde o ambiente material onde os funcionários desempenham as suas funções (e.g., limpeza do local, a qualidade do equipamento utilizado, a existência de áreas de convivência, etc), até os fatores intersubjetivos que permeiam o relacionamento entre os funcionários (e.g., respeito no trato com os companheiros, educação quando da exigência das tarefas, razoabilidade na estipulação das metas e objetivos, etc). Dito isto, a empresa que se preocupa com o seu ambiente de trabalho deve investir em tudo aquilo que diz respeito ao aspecto relacional, social e emocional de seus empregados.
Acontece, no entanto, que as lógicas internas que guiam os dois elementos da correlação expressa no primeiro parágrafo – “produtividade” e “ambiente de trabalho saudável”, são, em algumas situações específicas, compreendidas como dissonantes entre si. O argumento se constrói da seguinte forma: uma perspectiva meramente imediatista da produtividade julga que todas as ações, para satisfazerem o critério da eficiência, devem, necessariamente, orientar-se pela noção utilitária – “alcance de todas as metas traçadas e, para tanto, utilizar o menor número de recursos possíveis”. Em outras palavras, a perspectiva menos abrangente do conceito de produtividade, limita o seu escopo analítico a um mero cálculo, cujas tomadas de decisão que não respeitem mencionada “produtividade imediatista” sejam tidas como improdutivas e ineficazes.
Ao contrário, a lógica que fundamenta a noção de “ambiente de trabalho saudável” propõe que a empresa não deve deixar de realizar certos investimentos, mesmo que estes custos não sejam facilmente conciliáveis à lógica imediatista da produtividade. Os gestores, ao menosprezarem a importância dos gastos com os fatores concernentes ao bem-estar dos funcionários, resvalam no conceito de produtividade. Despender recursos para melhorar o relacionamento entre funcionários, tornando o ambiente de trabalho mais leve e prazeroso, não são gastos supérfluos, são investimentos em produtividade. Isto porque o ambiente saudável sobre o qual os funcionários de uma organização desempenham as suas funções, não consiste em um elemento a ser desprezado, mas, ao invés, cumpre uma importantíssima função, qual seja: fazer com que o caminho entre estabelecimento de uma meta e o seu efetivo cumprimento não tenha barreiras, obstáculos ou empecilhos.
Por Luís Felipe Andrade
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